O Brasil precisa de um novo modelo de certificação de carbono: mais acessível, justo e eficiente

Em 2005, o mundo conheceu dois lançamentos que mudariam suas respectivas áreas: o Google Maps e a Verra, certificadora internacional de créditos de carbono. No entanto, enquanto a tecnologia de mapeamento avançou de forma exponencial, a estrutura dos modelos de certificação de carbono pouco evoluiu — permanecendo baseada em sistemas caros, lentos, e muitas vezes excludentes.

Esses modelos foram desenvolvidos para uma realidade distinta da atual: exigem grandes áreas, altos investimentos, metodologias complexas e processos burocráticos de validação. Resultado? A maior parte dos produtores rurais brasileiros — justamente os que mais contribuem para a preservação — fica de fora.

Uma realidade brasileira que exige novos caminhos

Segundo o MapBiomas, o Brasil possui cerca de 549 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 65% do território nacional. Deste total, 41,3% estão em propriedades privadas, de acordo com o Censo Agropecuário de 2017. E há um dado ainda mais importante: 99% das propriedades rurais brasileiras têm menos de 1.000 hectares.

Essas propriedades abrigam Reservas Legais (RLs) e Áreas de Preservação Permanente (APPs) que prestam um serviço ambiental essencial: a remoção de carbono da atmosfera. Contudo, os principais modelos de certificação de carbono atualmente disponíveis no mercado internacional não foram pensados para essa realidade — nem em termos de escala, nem de tecnologia, nem de inclusão.

Isso tem consequências sérias: o edital recente da Petrobras, por exemplo, para aquisição de 5 milhões de créditos de carbono, adotou critérios que acabam por excluir 99% das propriedades rurais brasileiras do processo. Ou seja, estamos deixando de reconhecer e remunerar quem de fato protege a floresta.

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Áreas que necessitam de reflorestamento no Brasil.

O potencial do modelo brasileiro

A boa notícia é que o Brasil tem capacidade técnica, base legal e tecnologia para mudar essa lógica.

Nosso arcabouço jurídico já reconhece o valor ambiental das áreas nativas:

  • A Lei 12.651/2012, que instituiu o Novo Código Florestal, estabelece regras claras para a conservação de vegetação nativa em imóveis rurais;
  • A Lei 14.119/2021 cria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA);
  • E, agora, a Lei 15.042/2024 estrutura o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), o mercado regulado de carbono.

Essas leis possibilitam a criação de um modelo de certificação nacional, com base em dados geoespaciais, inteligência artificial e imagens de satélite de alta resolução — ferramentas muito mais acessíveis e precisas do que as disponíveis em 2005.

Na Jiantan , estamos trabalhando exatamente nesse ponto: na construção de uma metodologia inclusiva, confiável, transparente e acessível, voltada para as especificidades do território brasileiro. A proposta é permitir que pequenos e médios produtores rurais sejam reconhecidos e remunerados por aquilo que já fazem há anos: conservar a vegetação nativa, muitas vezes sem apoio institucional ou incentivo financeiro.

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Uma analogia com o setor de transporte

Quando a Uber surgiu, a resposta do setor de táxis foi tentar barrar a inovação com base na narrativa da “segurança”. No setor de carbono, é provável que a resistência venha pela bandeira da “credibilidade”. No entanto, assim como no transporte, o que tende a prevalecer são os modelos mais simples, financeiramente acessíveis, rastreáveis e eficientes.

A certificação baseada em sistemas cartoriais com alto custo por crédito e baixa escalabilidade, não atende à urgência climática e social do Brasil. O desafio de restaurar 21 milhões de hectares, conforme apontado pelo PLANAVEG, exige um modelo mais dinâmico e abrangente.

Floresta em pé é responsabilidade compartilhada

Ao arcar com os custos do reflorestamento, pequenos e médios produtores assumem uma responsabilidade ambiental que beneficia toda a sociedade. É justo que sejam remunerados por isso. E o caminho para isso passa pela criação de modelos nacionais de certificação, alinhados à nossa legislação, ao nosso território e à nossa realidade produtiva.

O futuro do mercado de carbono no Brasil será inclusivo — ou não será sustentável.

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