Insetting: compensação climática na cadeia de valor

Uma tendência consolidada no setor de remoção de carbono (CDR) é a diversificação das fontes de receita dos projetos.

Mais de 65% das iniciativas estão estrategicamente estruturando modelos que vão além da venda de créditos de carbono, incorporando receitas oriundas de materiais sustentáveis (como biocarvão e insumos para construção civil), geração de energia (calor e eletricidade), subprodutos de valor agregado (como bio-óleo), além de serviços voltados à descarbonização e ao insetting.

Essa diversificação não apenas aumenta a viabilidade financeira e atratividade dos projetos para investidores, como também reforça sua resiliência a oscilações de mercado.

O insetting está se tornando essencial para empresas que querem liderar a transição climática

Em um contexto de pressão crescente por metas climáticas mais ambiciosas, o insetting surge como uma estratégia inovadora para enfrentar o desafio das emissões de Escopo 3, que frequentemente representam mais de 90% da pegada de carbono de uma empresa.

Diferente da compensação tradicional (offsetting), que atua fora da cadeia de valor, o insetting busca reduzir emissões dentro da cadeia produtiva da própria empresa.

O que é insetting?

O insetting é a prática de implementar projetos de descarbonização junto a fornecedores, produtores rurais e comunidades parceiras com as quais a empresa já se relaciona. Isso pode incluir:

  • Proteção de florestas nativas
  • Agricultura de baixo carbono
  • Recuperação de áreas degradadas
  • Manejo sustentável de solo e água

Essa abordagem reduz as emissões geradas em etapas upstream da cadeia (como insumos agrícolas, logística e produção de base), promovendo impacto direto, rastreável e colaborativo.

O destaque do Brasil: Jiantan e o caso da Fazenda São João

No Brasil, a Jiantan se destaca por operacionalizar o insetting na prática, com base em uma metodologia técnica reconhecida e alinhada à legislação ambiental nacional.

Um exemplo concreto disso é o projeto desenvolvido com a Fazenda São João, no Paraná, apresentado no artigo “Pegada de carbono na produção de soja: insetting por serviços ambientais em propriedade rural no Paraná” (2025).

O estudo analisou a safra de soja 2022/2023, quantificando as emissões de gases de efeito estufa (GEE) da produção e a remoção de carbono promovida pelas áreas de vegetação nativa da propriedade.

Resultado principal:

  • 72% da produção foi compensada internamente por insetting.

A reserva legal da propriedade foi validada com imagens de satélite, metodologia IPCC e verificabilidade por Cadastro Ambiental Rural (CAR), garantindo rastreabilidade e adicionalidade.

Benefícios:

  • Compensação climática com base em serviços ambientais reais;
  • Gera renda ao produtor sem depender exclusivamente do mercado internacional de créditos;
  • Cria um produto (soja) com pegada ambiental diferenciada.
Conteúdo do artigo

O que dizem os padrões globais

A nova versão do Padrão Corporativo Net Zero V2.0 da SBTi reconhece mecanismos de “mitigação indireta” como parte das estratégias de redução de Escopo 3.

Isso inclui iniciativas como o insetting, com rastreabilidade e mensuração robustas.

Além disso, uma matéria recente da Notícias ESG (julho/2025) destacou o caso da LSB Industries, nos EUA, como referência em insetting por meio de CCS (captura e sequestro de carbono).

Assim como no exemplo brasileiro, o foco está na redução real dentro da cadeia de valor, com rastreabilidade e impacto concreto.

Empresas de logística começam a olhar para insetting

Desde os anos 1980, a compensação de carbono (carbon offsetting) tem sido usada por governos e empresas para acelerar ações climáticas, mas sua eficácia passou a ser questionada por não atuar diretamente nas cadeias emissoras. Um exemplo é o setor de transporte, que, em 2018, representou apenas 0,2% do mercado voluntário de offsets.

A proposta de carbon insetting surge como alternativa mais eficaz, ao direcionar recursos para reduzir emissões dentro da própria cadeia de valor, como investimentos em combustíveis sustentáveis, renovação de frota, retrofit neutro em carbono e eficiência energética.

O insetting representa uma evolução da compensação ambiental, tornando-a mais eficaz, colaborativa e integrada à realidade das cadeias produtivas.

Casos como o da LSB nos EUA, DHL e, com destaque, o da Jiantan com a Fazenda São João no Paraná, mostram que já é possível transformar desafios climáticos em oportunidades concretas de inovação, renda rural e valor compartilhado.

Ao priorizar o insetting, empresas não só reduzem suas emissões, mas também fortalecem relações com seus fornecedores, ampliam sua inteligência ambiental e constroem um legado de impacto positivo.

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