Insetting e a pegada de carbono da Soja: oportunidade estratégica para o Brasil

Reduzir a pegada de carbono da soja é possível e começa com dados de qualidade.

Compilação de dados apresentada por Eduardo Bastos e fornecidos pela Bayer e por Marilia Folegatti da Embrapa no X Congresso Brasileiro de Soja da Embrapa demonstrou como a metodologia utilizada e o nível de detalhamento das informações podem alterar drasticamente os resultados.

A pegada média da soja brasileira pode variar em até 75%, dependendo da fonte de dados. No caso apresentado, o valor caiu de 2.600 kg para 657 kg de CO₂e por tonelada de soja, quando práticas mais eficientes e dados locais foram considerados.

Esse resultado não é apenas estatístico. É estratégico. Afinal, pelas regras atuais do mercado de carbono, o Brasil já entra em campo perdendo de 3 a 0.

Insetting: mudar o jogo dentro da própria cadeia

Uma estratégia que pode virar esse placar é o insetting: práticas sustentáveis aplicadas dentro da própria cadeia produtiva, como preservação de áreas nativas, manejo de solo e uso racional de insumos.

Diferente do offsetting, que depende da compra de créditos externos à cadeia, o insetting agrega valor diretamente à produção.

Quando produtores e empresas atuam juntos, a pegada real da soja diminui, a competitividade internacional aumenta e novas receitas são criadas.

Na Jiantan , aplicamos metodologias brasileiras para quantificar a remoção de carbono de áreas preservadas, transformando-as em ativos ambientais que fortalecem o valor do agronegócio.

Isso é insetting na prática.

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Offset x Insetting: diferenças nos custos

Usando como referência o preço europeu do carbono (€72,36/tCO₂e em 11/08/2025):

• Offsetting: compensar emissões de 2.600 kg CO₂e/t soja custaria €187,51/t soja.

Mesmo reduzindo para 657 kg CO₂e/t com dados primários, o valor ainda seria de €47,38/t soja.

• Insetting: no estudo de caso em Ivatuba-PR, sem desmatamento nos últimos 20 anos, as emissões caíram para 303 kg CO₂e/t soja.

Considerando a remoção de carbono pela mata nativa da fazenda, 72% da produção já saiu compensada.

O custo final foi de apenas €2,64/t soja, enquanto o produtor recebeu R$142,00 por hectare/ano de mata preservada.

A diferença é expressiva. Não é mágica: são dados primários + tecnologia + legislação ambiental robusta.

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O Plano Clima, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima , impõe cortes de até 54% das emissões da agropecuária e desconsidera os investimento feitos pelos produtores rurais em preservação.

O estudo de caso que apresentamos no X Congresso Brasileiro de Soja, promovido pela Embrapa indicou que as áreas de reserva legal e preservação permanente em uma propriedade rural do Paraná foram capazes de remover dióxido de carbono da atmosfera em um período de 12 meses em um volume que equivale a 72% das emissões de CO2e que a propriedade emitiu durante a safra de soja em 2022/2023.

As emissões foram calculadas segundos critérios aceitos internacionalmente e as emissões por mudança de uso do solo foram feitas com o uso da excelente ferramenta disponibilizada pela (BRLUC) Embrapa para este fim. Não houve mudança do uso de solo no município entre os anos 2000 e 2019.

Temos tecnologia e base legal para agregar valor à agropecuária brasileira e retribuir os investimentos feitos neste sentido, mas para isto é necessário que cooperação.

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O diferencial brasileiro

O Brasil possui as regras ambientais mais restritivas entre os grandes players do agro. Reserva legal e áreas de preservação permanente (APPs) já fazem parte do patrimônio dos produtores e representam ativos ambientais de enorme valor.

Além disso, temos:

• Legislação ambiental sólida (como a Lei 15.042/24 no Paraná);

• Dados técnicos confiáveis sobre mudança de uso do solo em nível municipal;

• Rede de assistência técnica capaz de levar soluções ao campo.

Ou seja, as condições para escalar o insetting já estão postas.

Reconhecimento ao produtor rural

Um ponto essencial: na Jiantan 70% do valor gerado pelo insetting vai direto para o produtor.

Mais do que neutralização, é reconhecimento, o reconhecimento de que o agricultor brasileiro preserva parte significativa de sua terra em prol do meio ambiente.

Fortalecer essa narrativa é estratégico para a imagem internacional do agro brasileiro. O agro bem-feito é parte da solução. E fazemos bem-feito há mais de 50 anos.

Contribuição ao PEDEP

Nesse contexto, avaliamos também o Plano Estadual de Descarbonização do Paraná (PEDEP), hoje em consulta pública.

Identificamos três pontos de atenção para o setor de AFOLU:

1. Restauração de Reserva Legal: metas muito abaixo da real necessidade (713 mil ha).

2. Certificações internacionais: custo elevado e desnecessário frente à legislação brasileira, que já permite credenciar metodologias nacionais.

3. Ausência de insetting: estratégia fundamental que precisa ser incorporada ao plano.

O Paraná pode ser pioneiro ao alinhar políticas públicas com a realidade produtiva local, fortalecer metodologias nacionais e valorizar o investimento já realizado pelos produtores.

Participe da consulta pública até 20 de setembro: link aqui

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A compensação por insetting não é apenas um instrumento de sustentabilidade, mas também de competitividade global.

Com dados confiáveis, tecnologia e valorização do produtor, o Brasil pode mudar o jogo no mercado de carbono e transformar a soja em referência internacional de baixa pegada ambiental.

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