Mercado de carbono: ciência, tecnologia e… dinheiro.

Como as regras de mercado moldam o valor do carbono (e não a ciência).

O carbono virou ativo financeiro. E como acontece com qualquer ativo de mercado, o preço, a demanda e o valor percebido de uma tonelada de CO₂ removida ou evitada não dependem exclusivamente da ciência, mas sim das regras de mercado, da política e da dinâmica de oferta e demanda.

A ciência climática é clara: o mundo precisa de remoção de carbono (CDR) e em grande escala. Modelos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) são unânimes: não será possível atingir as metas de 1,5ºC ou 2ºC sem grandes quantidades de remoção de CO₂ da atmosfera.

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Demonstração do estoque de carbono em uma floresta.

O mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento (RED) surgiu em 2005, durante a COP 11 em Montreal. A ideia inicial e mais simples era recompensar financeiramente os países em desenvolvimento que conseguissem reduzir suas taxas de desmatamento.

Este foi o ponto de partida crucial que colocou o valor financeiro da “floresta em pé” na agenda climática global, abrindo caminho para a futura geração de créditos de carbono a partir da conservação florestal e corrigindo uma importante lacuna do Protocolo de Quioto.

O conceito de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), formalizado na COP 13 em 2007, expandiu o foco inicial para incluir não apenas o desmatamento, mas também a degradação das florestas.

A evolução para REDD+, introduzida na COP 15 (2009) e estabelecida na COP 16 (2010), foi um marco ao adicionar ao mecanismo atividades proativas simbolizadas pelo sinal “+”: a conservação, o manejo sustentável e o aumento dos estoques de carbono florestal.

Essa mudança transformou a abordagem de um sistema puramente preventivo para um framework abrangente que também recompensa ações positivas, tornando-se o padrão para projetos de carbono florestal no mercado voluntário.

Em resumo, a linha do tempo reflete uma sofisticação crescente na forma como o mundo vê o papel das florestas e da tecnologia na luta contra a mudança climática: de simplesmente evitar o desmatamento (RED), para incluir a degradação (REDD), depois para recompensar ações positivas (REDD+), e finalmente, para a necessidade de remover ativamente o CO₂ da atmosfera (CDR).

A quantificação e remuneração do serviço de remoção do carbono da atmosfera e adicionado à florestas preservadas é uma forma efetiva, transparente e permanente de incentivar a conservação e ampliação de matas nativas.

O mercado de carbono baseado em desmatamento evitado de áreas que legalmente podem ser desmatadas marcou o início do mercado de crédito de carbono e há anos já deu lugar a mecanismos mais transparentes e eficientes para o enfrentamento da crise climática, principalmente em países como o Brasil com 65% de seu território coberto por mata nativa sendo que 41,3% destas áreas de mata nativa estão em propriedades rurais privadas (MapBiomas, 2023) e 99% das propriedades rurais brasileiras tem menos de 1.000 hectares (IBGE, 2017).

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A certificação internacional de projetos de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal (REDD) é economicamente viável em menos de 1% das propriedades rurais brasileiras.

A lei 15.042/2024 leva em conta a realidade fundiária e jurídica do Brasil e determina que áreas de reserva legal e de preservação permanente são aptas para gerar créditos de carbono no mercado regulado brasileiro uma vez que a metodologia utilizada seja credenciada no futuro órgão gestor do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

Créditos de remoção de carbono (CDR), como o Bônus de Remoção de Carbono (BRC) representam a retirada efetiva de CO₂ que já está na atmosfera estão sendo emitidos no mercado voluntário segundo uma metodologia que garante que a remoção do carbono realizada por áreas de mata nativa em pequenas e médias propriedades, segundo critérios internacionalmente aceitos, é real, mensurável, rastreável, permanente, adicional e contada apenas uma vez.

Ativos de carbono com base em CDR nature-based, com alta integridade e rastreamento robusto, já são comercializados com prêmios de valor significativamente superior no mercado voluntário global. Empresas com metas Net Zero, investidores institucionais e fundos de impacto estão buscando justamente esse tipo de ativo.

É exatamente nesse espaço que a Jiantan atua: somos uma climate tech baseada no Paraná, com projetos de remoção de carbono florestal rastreável, MRV rigoroso e alinhados às melhores práticas internacionais. Hoje, já temos unidades produtivas de CDR em operação no Brasil, com oferta de ativos disponível para empresas e investidores que querem liderar essa transição.

São várias as rotas que levam ao mercado de carbono, a rota seguida pela Jiantan está amparada na legislação brasileira e em critérios técnicos internacionalmente aceitos, passa por pequenas e médias propriedades e pretende introduzi-las no mercado regulado de carbono brasileiro.

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Vários modelos de negócio existentes hoje no mercado serão economicamente mais rentáveis se pequenas e médias propriedades ficarem fora do mercado de geração de crédito de carbono.

Não podemos nos esquecer que estamos falando de mercado e pela lei do mercado, quanto menor for a oferta de créditos de carbono, maior será o preço dos que forem ofertados e mais rentável será o investimento de quem tem tamanho suficiente para pagar a certificação internacional, ou seja menos de 1% das propriedades rurais do Brasil.

Mas, e as metas de aumento de remoção? e a ciência? A ciência, ora a ciência, “it´s the economy, stupid!”

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